Uma das maiores feridas da história da tecnologia pode estar prestes a cicatrizar: Apple e Intel, que se desligaram em 2020 quando a Maçã migrou para seus chips ARM, agora estariam negociando um acordo para que a Intel fabrique processadores da Apple já a partir de meados de 2027. E o mais curioso: sem criar ou projetar nada, só tocando a serra de litografia para os A-series e M-series. Por que isso importa? Porque é uma jogada de mestre para a Apple reduzir riscos na cadeia de suprimentos e fortalecer o “made in USA” – e, para a Intel, um sinal claro de que o plano de voltar ao topo do mercado de foundry está dando certo.
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O que muda na parceria entre Apple e Intel
Até 2020, a Intel era a fornecedora de todos os chips dos Macs. A transição da Apple para seu próprio ecossistema de SoCs (System on Chip) com arquitetura ARM revolucionou o mercado e colocou a empresa na posição de gigante de design de processadores. Agora, segundo o analista Jeff Pu da Haitong International, a volta de barco não seria no design, mas na fabricação. Intel atuaria como uma foundry, estilo TSMC, usando seus nodos 18A e 14A para produzir os chips projetados pela Apple.
Neste modelo:
- Projeto dos chips continua 100% com a Apple;
- Fabricação caberia à Intel, que usaria suas fábricas nos EUA;
- O teste inicial envolveria os M-series de entrada para Macs e iPads em 2027;
- Em 2028, parte dos processadores de iPhone não-Pro (rumores falam do A22) poderia sair dos fabs da Intel.
Por que isso importa agora
Se você achou que esta era só mais uma fofoca do mundo tech, senta que lá vem história estratégica: a Apple, que sempre poupou drama, anda preocupada com a superdependência da TSMC, localizada em Taiwan. Com tensões geopolíticas e eventos de lockdown, o risco de interrupções ficou real demais – como vimos na pandemia. Ter uma foundry extra, ainda mais nos EUA, é um alívio para a logística e o “continuar produzindo”.
Para a Intel, é a chance de dar a volta por cima. Após anos de conservadorismo em chips, a empresa investiu pesado em expandir sua capacidade de foundry. Mostrar ao mundo que consegue produzir nodos de última geração (18A e 14A) para a Apple seria um case de demonstração e poderia atrair outros clientes gigantes.
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Linha do tempo estimada da colaboração
O cronograma sugerido por Jeff Pu, que normalmente acerta previsões de supply chain, é este:
- Segundo semestre de 2027: início da produção em volume dos chips M-series entry-level para MacBooks e iPads.
- 1º semestre de 2028: expansão para parte dos chips A-series não-Pro dos iPhones (rumores focam no A22).
- Fim de 2028+: possibilidade de escalar para modelos Pro ou até embarcar novas gerações de processadores.
O volume inicial seria modesto, a título de “test-drive”, garantindo que a Intel entregue consistência de fabricação e yield (taxa de sucesso das peças) adequada antes de ir para o high-stakes do iPhone.
O impacto na cadeia de suprimentos global
Mesclar TSMC e Intel como foundries dá à Apple um portfólio dois-em-um: metade em Taiwan, metade nos EUA. Isso significa:
- Menos vulnerabilidade a bloqueios ou crises políticas em uma única região;
- Potencial de isenção ou redução de tarifas, caso o governo americano favoreça insumos nacionais;
- Economia em logística, se parte da produção ficar mais perto de centros de distribuição nos EUA e na Europa;
- Alinhamento com o CHIPS Act dos EUA, que subsidia produção de semicondutores domésticos para reduzir dependência estrangeira.
Com isso, a Apple abate um dos principais pontos de falha da era pós-pandemia: a falta de chips ou atrasos que paralisaram linhas de montagem mundo afora.
Desafios para Intel e Apple
Mesmo com entusiamo, há obstáculos:
“Fabricar chips de ponta em volumes massivos é uma arte complexa. Qualquer variação na litografia, na pureza dos wafers ou no processo químico de deposição pode gerar perdas enormes.” – especialista em semicondutores, Dr. Mariana Pinto
- Escalar o novo processo 18A e 14A em alta confiabilidade;
- Manter custos competitivos em comparação à TSMC;
- Gerenciar a curva de aprendizado e a qualificação industrial de fornecedores locais;
- Coordenar cronograma exato para que Macs e iPhones não sofram com falta de peças.
Para a Apple, o foco será garantir que o design dos chips seja otimizado para as especificidades das fábricas da Intel. Pequenas diferenças de processo podem exigir ajustes de timing ou consumo de energia.
O que esperar até 2028
Se tudo correr como o pipeline indica, você terá na próxima geração de MacBooks e iPads chips com “feito nos EUA” estampado na carcaça – ainda que o layout seja 100% Apple. Para o usuário final, a promessa é a mesma performance de sempre, porém com uma segurança extra de que as entregas não serão interrompidas. No mundo iPhone, a migração parcial para um segundo foundry é uma jogada que poucos imaginavam tão rápido.
A reta final depende de testes internos, acordos de confidencialidade e adaptações nos contratos de IP (propriedade intelectual). Mas, se o piloto de 2027 for bem-sucedido, prepare-se para ver o nome Intel voltar aos bastidores de um produto icônico da Maçã.
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